Poder acústico presente no setor vidreiro. Disposto a diminuir os desconfortos causados pelos graus elevados de ruídos nos ambientes, o segmento arquitetônico encontrou no vidro uma solução eficaz para reduzir os níveis de poluição sonora nas residências, edifícios, escritórios e empresas.
Nos últimos anos o segmento da construção e arquitetura tem se deparado com uma demanda cada vez maior por residências e ambientes que ofereçam qualidades acústicas adequadas. Entretanto, apesar desse crescimento e tendência mercadológica, a quantidade de ambientes sem qualidades de conforto acústico ainda prevalece maioritariamente.
Essa desarmonia citada acima fica mais evidente quando são observados estudos realizados com futuros usuários das habitações, que apontam o desconforto acústico como uma das principais desvantagens e motivos de insatisfação na hora de escolher um imóvel para comprar ou alugar.
Proporcionar conforto acústico aos ambientes é um dos maiores desafios encontrados pelos arquitetos no momento de elaborar um projeto. Arquitetos atualizados sabem que a infraestrutura de um projeto deve, necessariamente, conter elementos que criem barreiras para a poluição sonora do exterior, de modo que esse cenário valoriza qualquer tipo de imóvel.
Além do mais, o profissional da arquitetura e construção civil deve estar atento para as normas regulamentadoras da ABNT, que estabelece uma série de critérios e metodologias de avaliação de conforto acústico para todas as edificações construídas a partir da publicação das referidas normas.
Dentre elas está a NBR 15.575, cuja leitura é obrigatória. Versa sobre os limites de ruído que é transmitido para dentro de residências, por exemplo, visando garantir o conforto de todos os moradores e vizinhos ao evitar a transmissão de barulhos como portas batendo, animais de estimação, salto de sapato, etc.
É importante ressaltar que a ausência de isolamento acústico nos ambientes pode interferir diretamente na saúde mental dos usuários do local. Não por acaso o termo ‘isolamento acústico’ é frequentemente substituído pelo termo ‘conforto acústico’.
Estudos já comprovaram que a falta de tratamento acústico pode gerar problemas arteriais – como a contração dos vasos sanguíneos, maior produção de adrenalina no corpo, além de estimular a insônia, dificuldade de comunicação, agressividade, estresse, dores de cabeça e, em casos mais extremos, perda de audição temporária ou permanente. Já em ambientes empresariais, além das mazelas à saúde, a poluição sonora pode resultar em perda de produtividade.
Por esse motivo é importante buscar novas soluções capazes de unir o útil ao agradável quando o assunto é combater o desconforto causado pelos ruídos externos intensos em ambientes residenciais e empresariais. Para essa finalidade, o segmento da arquitetura e construção civil encontrou no vidro um ótimo parceiro para auxiliá-lo.
Isolamento acústico de ambientes
O vidro, quando utilizado corretamente, é um componente poderoso na redução dos níveis de barulho, funcionando como uma barreira que rebate o som externo e torna os ambientes internos mais saudáveis e agradáveis.
Quando falamos sobre isolamento acústico, quanto mais rígido e denso for o material, mais som ele refletirá, como é o caso dos vidros, concreto, chumbo e aço. Entretanto, é preciso ressaltar que, dentre esses materiais considerados de massa pesada, o vidro é o único que consegue aliar rigidez com transparência, o que o habilita a participar de projetos singulares.
Além do mais, existe a necessidade de compreender que os termos isolamento acústico e absorção sonora tratam de dois conceitos diferentes, conforme ensina o Arquiteto Doutor em Acústica, Lineu Passeri, membro de um escritório técnico especializado em soluções de acústica urbana e arquitetônica.
“Quando ondas sonoras incidem sobre determinada superfície e não são refletidas para o recinto em que foram produzidas, temos a absorção sonora. Ou seja, a energia, no todo ou em parte, foi absorvida pelo material. Porém, quando as ondas sonoras refletem de volta ao ambiente é porque, no todo ou em parte, a energia foi isolada pelo material da superfície em questão”, afirma o arquiteto.
No caso de absorção sonora, Passeri comenta que a espessura dos materiais determinará sua capacidade de absorver o som. Para isso, é preciso se atentar que a absorção do som é equivalente à soma de dois outros fenômenos: A dissipação sonora e transmissão sonora. Estar ciente dessas particularidades é essencial para garantir a estanqueidade acústica nos locais.
A dissipação do som ocorre quando o interior dos materiais permite o movimento das partículas de ar em seu interior quando a onda de som passa através dele. Materiais como a lã de vidro, lã de rocha, espumas, feltros, etc são considerados bons absorventes sonoros, pois deixam as partículas de ar penetrar e se movimentarem em seu interior.
Já a transmissão sonora é definida pela parcela de onda sonora que passa através do material. Para exemplificar, imagine uma folha de papel, uma parede de madeira e uma parede de vidro, todos simbolizando uma barreira para o som.
A energia do som seria suficiente para movimentar a folha de papel, de modo que a outra face da folha se transformaria em um transmissor. Na parede de madeira o som seria abafado parcialmente, tendo em vista que a energia sonora teria mais dificuldade para movimentar as lâminas da madeira, deixando somente parte do som passar para o outro lado. Já na parede de vidro, somente as baixas frequências conseguiriam transpor a barreira, pois esse tipo de material (de massa pesada) é um ótimo isolante acústico, como já vimos acima.
“O que promove o isolamento acústico e a absorção sonora em recintos é, portanto, o conjunto de características dos materiais usados nas superfícies, ou seja, nos pisos, nas paredes e nas coberturas. A quantidade de material aplicado deve ser calculada de acordo com o tempo de reverberação esperado para o ambiente – quanto mais material absorvente for adicionado ao ambiente, menor será o seu tempo de reverberação”, finaliza o arquiteto.
Desse modo, é importante optar por materiais que ofereçam menor reverberação, pois os ruídos externos perderão a intensidade, amplificando o poder de isolamento acústico dos ambientes, tornando-os mais agradáveis.
Outro fator que influencia positivamente o isolamento acústico de interiores é a criação de uma sequência de obstáculos para impedir a passagem do som. Essa teoria é facilmente verificada na utilização de janelas insuladas – ou vidro insulados / vidros duplos – que, em combinação com outros materiais, oferece estanqueidade singular e é uma das principais saídas para compor as janelas de ambientes que demandem de conforto acústico.
O uso do vidro para proporcionar conforto acústico
Existem diversos tipos de vidros disponíveis no mercado, com características específicas e indicadas para as mais diversas finalidades. No caso de isolamento de som, se realizado com o tipo certo de vidro, esse material é capaz de bloquear, em média, 40 dB (decibéis) do volume de som que adentra nos ambientes, o que torna o isolamento acústico com vidro em um dos mais eficientes e recomendados atualmente.
Além do vidro insulado comentado acima, os vidros laminados também são indicados para barrar uma parte do som que entraria nos ambientes; para isso requer uma película especial (PVB acústico).
Ressaltamos que os vidros laminados são vidros de segurança compostos por duas (ou mais) placas de vidro unidas por uma película (ou resina). O vidro laminado é frequentemente requisitado na indústria vidreira devido às suas capacidades de proteção e segurança ao usuário.
Acontece que a composição do vidro laminado, em conjunto com o PVB acústico (placa de vidro + película + placa de vidro) oferece uma forte barreira para a energia do som, conseguindo bloquear boa parte da onda sonora que entraria em um determinado ambiente.
“O vidro laminado é a melhor solução para 90% dos casos, enquanto que o vidro duplo insulado não é recomendável para o isolamento acústico de ruídos de baixa frequência”, comenta Davi Akkerman, consultor e sócio diretor da Harmonia Acústica, empresa especializada na criação e desenvolvimento de idéias e soluções em acústica de ambientes.
Por esse motivo o vidro duplo é indicado no isolamento acústico de ambientes que ofereçam ruídos acima de 65 dB, com médias e altas frequências. “O problema é que os ruídos do tráfego urbano e dos aviões têm um grande componente de baixa frequência. Esse vidro perde eficiência diante da baixa frequência, apesar de isolar bem a partir da [frequência] média para alta. Além disso, atua no isolamento térmico”.
Vale lembrar que, para alcançar uma boa isolação do ambiente, o vidro insulado deve possuir uma câmara de ar com cerca de 10 cm de espessura. “Na Europa, encontramos janelas com afastamento de 15 cm entre os vidros, o que é fantástico para o isolamento térmico e acústico”, diz Davi Akkerman.
É muito importante ressaltar que é possível utilizar composições de vidro insulado fabricadas com placas de vidros laminados acústico, o que, consequentemente, bloquearia mais som devido ao aumento de número de barreiras.
“Composições vão muito bem, como por exemplo o vidro insulado com laminado com PVB acústico. Você pode mexer na distância entre os vidros, o que afeta diretamente a potência acústica… além de levemente inclinar o vidro, trabalhar com espessuras diferentes na composição, para eficiência de diferentes frequências, etc… enfim, as possibilidades são inúmeras e por isso, caso a caso, a análise específica da demanda do cliente e o local em que se está é fundamental”, diz Cirilo Paes da SEV Exclusivv.
Isso mostra que a escolha entre um vidro e outro dependerá necessariamente das características e necessidades de adequação à obra. Em ambos os casos, a onda sonora se choca com a superfície do vidro e é dividida em três partes, de modo que uma parte volta para o lado externo, outra parte será absorvida e convertida de energia mecânica para energia térmica e a terceira parte é transmitida para o interior do ambiente.
Ademais, é importante ressaltar que o desempenho acústico do vidro dependerá, também, dos outros elementos que formam a estrutura. O desempenho de todos os componentes, como caixilhos e ferragens, por exemplo, devem estar no mesmo patamar do desempenho das folhas de vidro.
Especialistas relembram que no Brasil existem poucos sistemas de esquadria com alto desempenho acústico, entretanto, esse cenário começou a se transformar com a implantação da Norma ABNT 15.575, que estabeleceu diversas diretrizes para a construção edificações com conforto acústico.
Vale lembrar também que a estrutura deve oferecer vedação total, eliminando qualquer possibilidade de frestas. Para isso, é importante contar com equipes altamente qualificadas no momento da instalação. Lembre-se que, para alcançar estanqueidade sonora, é preciso que o profissional extraia o máximo do desempenho de todos os componentes de uma estrutura envidraçada.
E claro, o usuário final precisa realizar manutenção nos componentes, eliminando possíveis ferragens deformadas ou quebradas, componentes ressecados ou soltos, a fim de evitar a redução de vida útil e manter o isolamento acústico do ambiente eficaz.
O que a norma diz sobre isolamento acústico de vidros nos ambientes?
A ABNT estabelece diversas normas relacionadas ao tema. A NBR 15.575 faz parte de uma lei que interligou em seu texto uma relação de normas já existentes, de diversas disciplinas e diretamente relacionadas ao tema, estabelecendo as responsabilidades de todos os componentes do processo.
Para a implantação da norma foi preciso quebrar diversos paradigmas culturais brasileiros relacionados às construções destinadas a habitação. A partir de então foi estabelecido um novo modelo de elaboração e especificações de projetos que inclui, por exemplo, o conhecimento básico do comportamento dos elementos, materiais, componentes e sistemas que comporão uma construção.
Resumidamente, para cumprir as diretrizes das Normas Regulamentadoras com relação ao isolamento da acústica dos ambientes é preciso anular os ruídos gerados pela circulação de veículos, música alta e outros alardes da vizinhança, como atividades em áreas comuns dos prédios (apartamentos).
Para alcançar esse objetivo, o profissional precisa harmonizar toda a estrutura da construção, como as fachadas, pisos, entrepisos, paredes e cobertura, sempre com a finalidade de estabelecer barreiras e obter um isolamento sonoro eficaz.
A Norma ABNT 15.575, já citada acima, deve ser estudada em conjunto de outras Normas Regulamentadoras relacionadas ao tema, como a NBR 10.151 e 10.152. Isso ocorre porque, apesar de estabelecer diversos critérios, a NBR 15.575 não tipifica diretrizes para ruídos externos e não estabelece limites sonoros para repouso noturno, assuntos abordados nas normas 10.151 e 10.152, respectivamente.
“A norma técnica ABNT NBR 10.151, intitulada como Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas Visando o Conforto da Comunidade, fixa as condições exigíveis para a avaliação da aceitabilidade do ruído em comunidades, independentemente da existência de reclamações, e especifica um método para a sua medição”, salienta o arquiteto Doutor Lineu Passeri.
Com relação à Norma Regulamentadora 10.152 – Níveis de Ruído para Conforto Acústico – a mesma estabelece níveis de ruídos admissíveis para o conforto acústico em ambientes de diversos tipos.
As exigências da legislação brasileira conseguem manter a satisfação do usuário e proporcionar edificações altamente funcionais, cenário que agrada a todos os envolvidos, seja o construtor, o arquiteto ou o cliente final.